De um cenário de guerra às paralimpíadas
Em 1945, a II Guerra Mundial deixou um triste legado de soldados com deficiência física. Essa realidade influenciou o neurocirurgião Ludwig Guttmann a iniciar na Inglaterra um trabalho de reabilitação médica e social para veteranos de guerra incluindo o esporte como parte do tratamento.
A prática terapêutica era realizada no Centro de Lesionados Medulares do hospital de Stoke Mandenville. Segundo o livro Desporto adaptado no Brasil, publicado em 1998, o processo obteve grande aceitação dos médicos, tendo em vista que, na época, não era comum o desporto como parte de reabilitações médicas. Guttman, satisfeito com o resultado, decide colocar em prática um sonho: organizar jogos para pessoas com deficiência. Em 1948, foi realizada a primeira disputa esportiva para pessoas com deficiência, reunindo apenas participantes cadeirantes.
A competição obteve grande aceitação e os jogos, que até então eram realizados apenas em Stoke Mandeville, rompem os limites e ganham status internacional. O sucesso foi comprovado com a realização da primeira paraolimpíada em Roma, no ano de 1960. Os jogos tiveram a participação de 400 esportistas de 23 países. O evento contou com oito modalidades a ser disputada: snooker, arremesso, lançamento, basquete, natação, tênis de mesa, arco e flecha e pentatlo.
Brasil de Almeida e Del Grande
No Brasil, o esporte para pessoas com deficiência começou em 1958, quando o cadeirante Robson Sampaio de Almeida, em parceria com seu amigo Aldo Miccolis, fundou o Clube do Otimismo, no Rio de Janeiro. No mesmo ano, outro nome se destaca: o esportista Sergio Serafin Del Grande que cria o Clube dos Paraplégicos, em São Paulo. Del Grande, incentivado por amigos formou, então, a primeira equipe de basquete em cadeira de rodas denominada “Ases da cadeira de rodas”. Os pioneiros tiveram contato com a prática esportiva para pessoas com deficiência enquanto faziam tratamento nos Estados Unidos, observando a repercussão do esporte praticado em cadeiras de rodas resolveram trazer a ideia para o Brasil.
A primeira apresentação do time ocorreu um ano após a criação dos clubes, com o primeiro jogo de basquete em cadeira de rodas entre equipes brasileiras. Del Grande e Almeida são considerados nomes de destaque no esporte paraolímpico brasileiro. Em 1975, o movimento paraolímpico ganha notoriedade. As modalidades foram sendo categorizadas e surgiram associações com o objetivo de agregar os esportes praticados por atletas com diferentes tipos de deficiência. Entre as entidades estão a Associação Nacional do Desporto de Deficientes (Ande), a Associação Brasileira de Desporto para Amputados (ABDA), a Associação Brasileira de Desporto para Cegos (ABDC) e a Associação Brasileira de Desporto de Deficientes Mentais (ABDEM).
Na década de 90, especificamente em fevereiro de 1995, o Brasil teve um grande salto com a criação do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), que tem como função a organização de eventos paraolímpicos nacionais, até o envio de atletas nacionais para competições no exterior, contribuindo para o fomento do esporte de alto-rendimento para pessoas com deficiência.
A ação de maior resultado para o movimento paraolímpico foi a assinatura, em 19 de Junho de 2001, de um acordo entre o Comitê Olímpico Internacional (COI) e o Comitê Paralímpico Internacional (IPC) que assegura o direito de realizar os jogos no mesmo ano e local das Olimpíadas, tornando-se obrigatória toda cidade que apresentar sua candidatura para os jogos Olímpicos assumir na mesma proposta o compromisso da realização das Paralimpíadas. Hoje, o paradesporto brasileiro é representado por 22 modalidades que são disputadas em competições nacional e internacional.
Deborah Vieira
Jornalista
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